sábado, 8 de dezembro de 2007

Árido

Hesito em abrir os olhos, uma claridade imensa invade os meus sentidos, sem qualquer tipo de pudor ou compaixão, desperta-me. Olho em redor e cá está ela de novo. Sempre a mesma paisagem, árida, de tons secos, sem vida. Apesar da sua constante mutabilidade ao sabor do vento, a sensação que me causa é sempre a mesma, a sensação de desespero, a vontade de desistir, ceder perante o calor abrasador, deixar que o vento leve o meu corpo de papel ressequido até que esta superfície me assimile em si. Inspiro. Novamente nada! As minhas capacidades olfactivas continuam inxistentes, apenas um tremendo desconforto enquanto o ar parece arranhar-me as vias respiratórias. Apetece tussir, mas isso só pioraria a situação. O ambiente abafado em meu redor lembra-me das condições terríveis a que continuo exposto. Sinto-me transpirar, mas já nada tenho que possa servir ao propósito de arrefecimento do meu corpo. Sei que tudo é inútil. Vaguear durante o dia, por dunas, horizontes intermináveis repletos de uma paisagem morta que me quer subjugar, vergar até que ceda. Eu quero ceder. Não quero voltar a sentir o frio gélido que a noite me proporciona. O silêncio ensurdecedor que me enlouquece até que por fim adormeço e recomeço tudo novamente. Mas há algo em mim que luta. Luta contra a minha própria vontade. Até nisso sou fraco, deixo-me ser dominado pela parte de mim que não posso gerir conscientemente. Tudo o que ela me diz não é claro, é algo muito ténue, como conceitos imperfeitos, mas que acabam sempre por fazer todo o sentido. Tal como as mãos experientes de um artista de marionetes, continua a guiar-me, a forçar-me a resistir ao apelo dos milhões de grãos de areia que parecem cantar para mim. Chamam-me, seduzem-me... Mas não. Continuo a exercer movimentos involuntários que me levam na direcção de cada vez mais deserto. Busco pelo "oásis", que o meu subconsciente me apresenta como salvação, eternamente, sem nunca o encontrar.