quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Desabafo

Há um odor fétido no ar em meu redor. Uma sensação desagradável de pele arrepanhada, seca, faz com que sinta um desconforto permanente. Apetece-me despir, não as roupas, mas sim a minha própria pele. O cabelo está oleoso, sinto-o pegado ao couro cabeludo como se de um parasita se tratasse, sugando-me a sanidade, impondo-me tremores de desconforto e arrepios na espinha. Sinto-me imundo, como se há minha volta irradiasse uma aura de podridão, cuja fonte só posso ser Eu! Quero à força libertar-me de mim próprio, fugir de quem sou, espezinhar este eu que me envergonha. Grito mentalmente! Um grito gutural, de revolta, de insurreição, de nada... é abafado... por mim... por quem sou. Fraco. Egoísta. Acomodado. Não gosto, mas tenho de viver comigo mesmo. Sobreviver. Uma erva daninha cresce no interior do meu peito, sinto-a ganhar força, expandir-se. Por cada centímetro que progride, uma angustia aperta-me o coração, forma-se névoa na razão. Neste momento já tenho uma frondosa parasita a tomar conta do meu destino, e eu como jardineiro dedicado, vou alimentando-a.

quarta-feira, 25 de março de 2009

O que me falta?

Sinto-me estranho, não sei bem explicar como nem porquê, mas algo em mim não está bem. Tenho passado estes últimos dias sem nada para fazer, e sem vontade de fazer nada. Fico horas de olhar perdido, vagueando pelas variadas formas que me rodeiam sem que nada capte a minha atenção. Tento forçar-me a iniciar uma qualquer actividade, que habitualmente me traria prazer, me deixaria entretido, concentrado. Mas no entanto, tudo o que inicio não me cativa a atenção, parecendo-me como que uma bebida tépida, de sabor indescritível, que não me mata a sede que sinto. Continuo a deambular, sem destino certo, sem uma finalidade exacta, percorro as várias divisões da casa sem me deter em nenhuma. Resolvo sair, de queixo levantado sinto o sol raiado inundar-me o rosto de uma luz viva, quente, pulsante, mas rapidamente perco o interesse e a sensação de estranheza, de desconforto, volta a entranhar-se em todos os meus poros, deixando-me desejoso de sair dali, de ir para outro lugar. Para onde? Não sei. Sigo os meus pés, que ganham vida própria, seguindo em passos decididos, transparecem conhecer melhor o destino pelo qual anseio. Receoso do desconhecido resolvo tomar novamente as rédeas de mim próprio, impondo-me uma contenção incomodativa prescruto uma rebelião emocional prestes a transbordar do meu interior. Através do meu olhar já turvo há algo por fim que me capta a atenção, que reluz no meu inconsciente como um fino raio de sol que encontra um diamante lapidado, iluminando tudo em seu redor. Foi ao olhar para o calendário que percebi que ainda faltam 2 dias para te ver...