quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

I - A representação da minha vida

Há dias em que me sinto guiado, conduzido, por uma força superior, algo inexplicável. A sensação de que não controlo o meu próprio destino é aterradora, deixa-me nervoso, obriga-me a refugiar-me num mundo de criatividade e imaginação, tentando sofregamente discernir uma solução, uma forma de quebrar a rotina traçada. No entanto, tudo o que penso e executo parece estar previamente traçado, como se o meu livre arbítrio mais não fosse do que uma ilusão provocada por uma droga alucinógenea tornando o mundo em que vivo mais agradável e aconchegante. A sensação de impotência alastra-se até aos meus poros, arrepia-me a pele e enrijece os meus músculos. Condiciona-me os movimentos. Limita-me o pensamento. Isto mais não é do que um condicionamento psicológico, mas confrontá-lo seria como um pequeno fantoche que luta por retirar a mão que o comanda desde as entranhas. Há dias assim... em que me sinto um marreta actuando perante um público difícil de agradar, tentando entretê-lo, fazê-lo esquecer a dura realidade que abandonou mal entrou na sala de espectáculos. O problema é que o público representa o meu eu consciente, realista, o enredo representa o meu subconsciente que tenta entreter, ou até mesmo orientar o público... e eu, personagem principal, sinto-me perdido, sem saber bem as deixas e o posicionamento correcto em palco. Profiro palavras sem saber bem o que dizem, desloco-me sem saber bem o que pretendo mostrar. O "ponto" gesticula para mim, manifesta desagrado no seu rosto. O público não vaia nem aplaude. E eu... não páro de representar.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Gostar é querer

Gosto da forma como defendes, com unhas e dentes, as tuas opiniões. Gosto de te ver fechar os olhos, inclinar a cabeça e rodar o pescoço em jeito de descontração muscular. Gosto do leve trejeito que os teus lábios pronunciam quando te toco carinhosamente no pescoço. Gosto quando suspiras audivelmente, manifestando publicamente o teu cansaço, e depois deitas a tua cabeça no meu colo e sucumbes de bom grado ao passear dos meus dedos pela floresta densa do teu cabelo. Gosto da forma como inclinas levemente a cabeça assim que te abraço por trás, ansiando o aconchego dos meus lábios na pele macia e perfumada do teu pescoço. Gosto quando me abraças, forte, e choras, partilhas a tua dor comigo. Gosto quando cuidas de ti, das pequenas pausas que fazes no dia-a-dia em que cumpres o ritual de adoração ao teu corpo, em que o amacias, o embelezas, o perfumas. Gosto quando sorris, do som, agradável, amigável, feliz. Gosto quando cruzas o olhar comigo em locais públicos, da forma como não precisas falar para que tudo faça sentido para mim. Gosto da forma como marcas presença, onde quer que estejas, distingues-te, reluzes como um farol, não sendo egoísta ao ponto de querer que reparem nele, mas querendo sim avisar do perigo que pode representar o ignorar da sua aproximação. Gosto de todas essas pequenas coisas que te tornam única para mim. Quero-te...