segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Há sensações... e sensações.

Existem momentos, atitudes, sabores, cheiros, toques que nos marcam, que deixam tatuado no nosso subconsciente uma impressão que se traduz fisicamente das mais diversas formas. Um arrepio que percorre toda a extensão da nossa espinha. Uma sensação de chão que foge dos nossos pés, como se fôssemos o Willie E. Coiote, que só após olhar para baixo se apercebe do precipício. Uma sensação de tontura, como se tivessemos levado uma injecção de morfina que nos enturpece os sentidos. Cada um sente todos estes sintomas de forma diferente, o que para um é uma montanha russa, para outro pode ser um soco no estômago e ainda pode haver quem o considere um orgasmo à beira mar. Quem consegue captar estas sensações e gozá-las, compreendendo o seu verdadeiro sentido para si próprio, pode se considerar afortunado, pois experiencia o que de melhor a vida nos pode dar. Mas existem ainda os pregadores, que conseguindo não apenas captar e interiorizar essas sensações, conseguem exteriorizá-las nas mais diversas formas, desde a escrita à música, passando pela pintura e muitas outras formas de arte. Por vezes sinto-me como que experienciando a mais avançada tecnologia de realidade virtual quando ao ter acesso a uma dessas manifestações de sensações de terceiros, eu próprio as sinto e vivo como se fossem minhas... e será que no fundo não são?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Desabafo

Há um odor fétido no ar em meu redor. Uma sensação desagradável de pele arrepanhada, seca, faz com que sinta um desconforto permanente. Apetece-me despir, não as roupas, mas sim a minha própria pele. O cabelo está oleoso, sinto-o pegado ao couro cabeludo como se de um parasita se tratasse, sugando-me a sanidade, impondo-me tremores de desconforto e arrepios na espinha. Sinto-me imundo, como se há minha volta irradiasse uma aura de podridão, cuja fonte só posso ser Eu! Quero à força libertar-me de mim próprio, fugir de quem sou, espezinhar este eu que me envergonha. Grito mentalmente! Um grito gutural, de revolta, de insurreição, de nada... é abafado... por mim... por quem sou. Fraco. Egoísta. Acomodado. Não gosto, mas tenho de viver comigo mesmo. Sobreviver. Uma erva daninha cresce no interior do meu peito, sinto-a ganhar força, expandir-se. Por cada centímetro que progride, uma angustia aperta-me o coração, forma-se névoa na razão. Neste momento já tenho uma frondosa parasita a tomar conta do meu destino, e eu como jardineiro dedicado, vou alimentando-a.

quarta-feira, 25 de março de 2009

O que me falta?

Sinto-me estranho, não sei bem explicar como nem porquê, mas algo em mim não está bem. Tenho passado estes últimos dias sem nada para fazer, e sem vontade de fazer nada. Fico horas de olhar perdido, vagueando pelas variadas formas que me rodeiam sem que nada capte a minha atenção. Tento forçar-me a iniciar uma qualquer actividade, que habitualmente me traria prazer, me deixaria entretido, concentrado. Mas no entanto, tudo o que inicio não me cativa a atenção, parecendo-me como que uma bebida tépida, de sabor indescritível, que não me mata a sede que sinto. Continuo a deambular, sem destino certo, sem uma finalidade exacta, percorro as várias divisões da casa sem me deter em nenhuma. Resolvo sair, de queixo levantado sinto o sol raiado inundar-me o rosto de uma luz viva, quente, pulsante, mas rapidamente perco o interesse e a sensação de estranheza, de desconforto, volta a entranhar-se em todos os meus poros, deixando-me desejoso de sair dali, de ir para outro lugar. Para onde? Não sei. Sigo os meus pés, que ganham vida própria, seguindo em passos decididos, transparecem conhecer melhor o destino pelo qual anseio. Receoso do desconhecido resolvo tomar novamente as rédeas de mim próprio, impondo-me uma contenção incomodativa prescruto uma rebelião emocional prestes a transbordar do meu interior. Através do meu olhar já turvo há algo por fim que me capta a atenção, que reluz no meu inconsciente como um fino raio de sol que encontra um diamante lapidado, iluminando tudo em seu redor. Foi ao olhar para o calendário que percebi que ainda faltam 2 dias para te ver...